José (nome fictício), de 44 anos, foi o primeiro doente a receber a visita da equipa da Unidade Médica de Hospitalização Domiciliária (UMHD) do Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM), no dia 3 de novembro de 2020. As enfermeiras Patrícia Martins e Eunice Ribeiro foram os rostos que marcaram o início desta aventura. “Foi um privilégio fazer parte da primeira equipa e também uma grande responsabilidade, pois foi sentida a importância desta modalidade de internamento logo na primeira admissão”.
Entre os dias 3 de novembro de 2020 e 30 de abril de 2022 foram 215 os doentes que beneficiaram deste novo modelo de assistência hospitalar. A UMHD do CHBM destina-se a doentes com patologias do foro médico e/ou com doença incurável, avançada e progressiva, ou processo orgânico degenerativo em situação terminal, que aceitem de forma voluntária a hospitalização domiciliária e que residam nos concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo. “Somos das poucas Unidades de Hospitalização Domiciliária no país que tem a vertente paliativa”, destaca a Responsável e Coordenadora Médica da Unidade, Dra. Helena Garcez, acrescentando que “isto se traduz num maior desafio para toda a equipa multidisciplinar”.
A UMHD dispunha inicialmente de uma viatura e uma lotação de 5 camas, sendo constituída por uma equipa multidisciplinar de 12 profissionais: 2 médicos, 4 enfermeiros, 1 psicólogo, 2 farmacêuticos, 1 nutricionista, 1 assistente social e 1 assistente técnico; uns a tempo completo e outros a tempo parcial. “A melhoria da qualidade dos cuidados, a par com a valorização da proatividade dos doentes e seus cuidadores no seu próprio processo de cuidados, conduziu a um reconhecimento indubitável, por parte dos doentes, famílias e profissionais de saúde, das mais-valias do trabalho realizado pela UMHD, traduzindo-se na necessidade crescente do incremento da capacidade instalada, de modo a corresponder à procura desta modalidade inovadora de internamento domiciliário”, esclarece o Administrador Hospitalar da UMHD, Dr. Tiago Soares. Atualmente, a UMHD conta com 2 viaturas e uma lotação de 10 camas, passando a equipa a integrar 14 profissionais (mais 1 médico e 1 enfermeiro).
13h30 é a hora marcada para as reuniões da equipa, que acontecem todos os dias úteis e têm como objetivo “a discussão da evolução clínica dos doentes internados e das necessidades inerentes aos mesmos; a avaliação de pedidos de encaminhamento; o planeamento de admissões e altas na Unidade”, segundo nos explica a Enfermeira Coordenadora Patrícia Martins, que integra esta equipa desde o primeiro dia.
A UMHD funciona todos os dias do ano, “com planeamento da atividade consoante a complexidade clínica e terapêutica. Os profissionais estão organizados em duas equipas, cada uma com as suas tarefas”, esclarece a Enf.ª Eunice Ribeiro. Uma das equipas presta cuidados de acordo com o Plano de Cuidados definido, nomeadamente administração de terapêutica prescrita; monitorização de sinais vitais; execução de pensos ou outros procedimentos de enfermagem planeados; prestação de cuidados de enfermagem em situação aguda; colheitas para análise laboratoriais e preparação de terapêutica prescrita em unidose.
Por seu turno, compete à outra equipa, a realização de avaliação de enfermagem em doentes internados nas instalações do CHBM, encaminhados para admissão na UMHD; visitas domiciliárias para acolhimentos de enfermagem no domicílio após admissão do doente na Unidade; visitas domiciliárias de reavaliação clínica em equipa disciplinar; e as visitas domiciliárias para realização de altas com equipa multidisciplinar.
Humanizar os cuidados de saúde prestados aos doentes é uma das missões desta equipa. “A UMHD pretende todos os dias contribuir para humanizar os cuidados de saúde, oferecendo tratamento diferenciado de nível hospitalar no conforto da residência dos doentes, reduzir a taxa de complicações relacionadas com infeções em meio hospitalar, e aproximar o hospital da comunidade”, enfatiza a Enfermeira Gestora Luísa Barbosa.
Olhando para o futuro, a equipa tem como ambição expandir a UMHD, aumentando o número de camas, “mas mantendo o nível de qualidade dos cuidados prestados e o nível de satisfação dos doentes e suas famílias”, conta-nos a Dra. Rosário Ginga, que também integra esta equipa. A Enf.ª Gestora Luísa Barbosa acrescenta: “Pretendemos ainda divulgar as boas práticas no âmbito da prevenção e gestão de sintomas do doente em Hospitalização Domiciliária, na comunidade cientifica”.
Uma história a partilhar
A Enf.ª Patrícia Martins é um dos rostos desta equipa. Sempre com um sorriso e boa disposição, partilha connosco uma das histórias que os marcou e que é um bom exemplo do trabalho em equipa realizado pela Unidade Médica de Hospitalização Domiciliária.
António (nome fictício), de 55 anos, foi internado na UMHD no dia 29 de outubro de 2021, dando continuidade ao tratamento iniciado no Hospital, de administração de antibioterapia intravenosa. Cumprindo todos os critérios para o internamento domiciliário, António aceitou trocar o hospital pela sua casa!
“O Sr. António durante o internamento apresentou-se sempre colaborante assim como a esposa, cuidadora, que sempre foi muito presente e preocupada com a evolução do estado de saúde do marido. Ambos cuidavam do neto que passava o período do dia na casa dos avós, atividade que o nosso utente valorizava muito e que sempre salientou que só era possível ser uma realidade, uma vez que estava internado no seu domicílio”, relembra a Enf.ª Patrícia Martins. No dia 23 de dezembro de 2021, o Sr. António comunicou à equipa da UMHD que o genro tinha testado positivo à COVID-19 e que tinham almoçado juntos no dia anterior. A equipa recebeu o resultado na noite do dia 24 de dezembro, era positivo.
“Uma vez que o Sr. António estava assintomático e mantinha-se sem outras alterações da sua situação clínica, foi decidido em equipa multidisciplinar que o doente iria manter-se internado no domicílio, sem necessidade de transferência para um serviço ADR. Foram reestruturados os circuitos e as visitas domiciliárias programadas, assegurando assim um circuito COVID-19, de acordo com as normas da Direção-Geral de Saúde”, explica a Enf.ª Patrícia Martins. “O doente permaneceu na sua casa no Natal, e ainda que a cumprir isolamento, verbalizou que tinha sido muito importante para a continuidade da sua recuperação, a permanência no seu meio familiar”, destaca a enfermeira.
Este caso é, de acordo com a Dra. Helena Garcez, um bom exemplo dos benefícios da hospitalização domiciliária. “Este caso clínico, que se verificou longo dada a gravidade diagnóstica e terapêutica, vem comprovar que antes, durante e após a pandemia COVID-19, a Hospitalização Domiciliária é um modelo de assistência importante do sistema de saúde, expandindo o Hospital para a comunidade e constituindo um modelo de internamento que permite atingir a eficiência, sem prejuízo da segurança do doente”, refere.
Também a Enf.ª Luísa Barbosa destaca os grandes benefícios deste tipo de internamento, que trazem “um maior conforto e menor impacto familiar, social e profissional da doença; a obtenção de resultados clínicos e segurança equivalentes aos de um internamento convencional; a promoção da participação das pessoas mais próximas do doente no seu tratamento e a promoção da autonomia e da recuperação funcional, com evidência da diminuição do grau de dependência à data da alta”.