"Serviço de excelência em termos técnicos e colocando efetivamente o doente no centro da organização dos cuidados de saúde". Este é apenas um dos muitos comentários que a Unidade de Hospitalização Domiciliária da Área Cirúrgica (UHDAC) do Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) recebeu nestes mais de 2 anos de atividade.
A UHDAC iniciou a sua atividade no dia 13 de dezembro de 2019. A Enfermeira Guida Lopes foi o rosto da primeira visita e ainda hoje recorda com emoção o início desta nova aventura. “Foi um grande desafio, estava muito expetante com o que ia acontecer porque, apesar de ter conhecido o doente no dia anterior, aquando da avaliação de enfermagem, fazer a visita domiciliária, entrar no seu espaço, foi um grande desafio, superado além das expectativas”.
Esta Unidade destinava-se inicialmente aos doentes do Serviço de Cirurgia Geral “com uma situação clínica transitória e estável nas patologias do pé diabético, trombose venosa profunda, diverticulite, pancreatite aguda, colestite aguda; aceitando de forma voluntária a hospitalização domiciliária”, explica-nos o Dr. Pedro Gameiro, Responsável pela UHDAC. Ao longo do tempo “fomos aumentando a área de atuação e atualmente tratamos as mesmas patologias, com maior reforço por exemplo de doentes com pé diabético; mas expandimos a prestação de cuidados para os doentes da restante área cirúrgica, como a Ortopedia, Urologia, Ginecologia, Senologia, entre outros”, conclui.
Garantindo o atendimento contínuo 24 horas por dia, todos os dias do ano, a UHDAC iniciou atividade com 1 viatura e uma lotação de 5 camas. “Rapidamente constatámos que era preciso aumentar os recursos da Unidade, indo ao encontro das necessidades dos utentes seguidos na Instituição e respondendo também à vontade da equipa de acompanhar esta necessidade”, explica a Administradora da Área, Dra. Susana Capela. Atualmente, a UHDAC conta com 2 viaturas e com uma lotação de 10 camas, “que dependendo das moradas e patologias dos doentes, poderá ser estendida até 14 camas”, acrescenta. A equipa multidisciplinar é composta por 15 elementos, entre 5 enfermeiros, 6 médicos, 1 administrador hospitalar, 1 farmacêutica, 1 assistente social e 1 nutricionista.
Atualmente, a UHDAC está a tratar 10 doentes, que residem nos concelhos da área de influência do CHBM (Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo), mas “já tratamos doentes de outros concelhos, como Palmela, desde que o tempo de deslocação seja inferior a 30 minutos”, conta-nos a Enfermeira Coordenadora da Unidade, Enf.ª Luísa Luz. Entre os dias 13 de dezembro de 2018 e 31 de maio de 2022 foram tratados pela UHDAC 488 doentes, “o que nos enche de orgulho”, adianta a Enf.ª Luísa Luz.
A UHDAC “presta cuidados de nível hospitalar no domicílio, definindo um plano individual para cada doente, em articulação com a equipa clínica hospitalar que acompanhou o doente até ao momento da alta para a hospitalização domiciliária”, explica-nos a Dra. Andreia Paulos, uma das médicas que integra a equipa. E acrescenta: “Articulamos com os diversos serviços do CHBM, garantindo o acesso aos exames e tratamentos necessários para o doente; e com os demais prestadores de cuidados de saúde, assegurando uma transição progressiva para os cuidados de saúde primários ou para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados”.
Relativamente à sua referenciação, “os doentes podem ser referenciados na sequência de um episódio de internamento hospitalar, da admissão através do serviço de urgência, do hospital de dia ou da consulta, podendo ainda existir referenciação direta a partir dos cuidados de saúde primários ou dos cuidados continuados integrados”, adianta o Dr. Pedro Gameiro.
“O acesso à hospitalização domiciliária cirúrgica permitiu ao doente aceder à antibioterapia endovenosa na sua casa, à alta precoce do internamento cirúrgico, ao seu acompanhamento permanente na transição do internamento para o domicílio, à promoção da literacia em saúde e do seu potencial máximo pós-cirúrgico, e apoio contínuo ao cuidador informal”, como descreve a Enf. Guida Lopes.
Perspetivando o futuro, a equipa pretende aumentar a capacidade de resposta da UHDAC para que seja possível “o alargamento para outras e novas patologias no âmbito da hospitalização domiciliária; introdução de novas abordagens de tratamento para o doente no domicílio (por exemplo bombas elastoméricas), que implicarão a diversificação técnica; análise da hipótese de introdução da telemonitorização; e promoção de articulação mais estreita com os cuidados de saúde primários”, conclui o Dr. Pedro Gameiro.
Acompanhamento de proximidade
Dra. Andreia Paulos é uma das médicas que integra a equipa desde o primeiro dia da criação da UHDAC, acompanhando de perto os doentes que outrora eram seguidos em ambiente hospitalar. “A Hospitalização Domiciliária é uma modalidade de internamento que considero uma alternativa válida ao internamento hospitalar convencional. É caracterizada pela prestação de cuidados de saúde de nível hospitalar no domicílio, proporcionando uma abordagem personalizada e adaptada à realidade individual de cada doente”.
De acordo com esta especialista, “neste tipo de internamento é notória a redução das complicações inerentes ao internamento convencional, sendo este não só uma solução para o problema da sobrelotação como também tem múltiplas vantagens para o doente. O conforto do lar, o apoio familiar e o retomar das rotinas quotidianas são seguramente fatores importantes na rápida recuperação dos doentes internados na Hospitalização Domiciliária”. Para além de todo o benefício para o doente e para o Serviço de Cirurgia “a maior recompensa deste projeto é sem dúvida o reconhecimento pelo doente e pela sua família”, conclui.
Trabalhando em equipa
A UHDAC é constituída por uma equipa multidisciplinar, da qual faz parte 1 farmacêutica, 1 assistente social e 1 nutricionista. A Dra. Rute Miranda é a Farmacêutica que integra esta equipa e explica-nos que o apoio dado “é praticamente idêntico a outro serviço de internamento hospitalar, tanto em termos da definição do circuito do medicamento garantindo a sua segurança, como em termos clínicos, ou seja, no apoio à prescrição médica, monitorização sérica de antibióticos, entre outros. Destaca-se o apoio na avaliação e recomendação de alternativas que permitam e/ou otimizem a administração da terapêutica no domicílio do doente, tais como a substituição de medicamentos injetáveis para administração por via oral de acordo com a biodisponibilidade dos fármacos”.
O papel do Assistente Social é também muito importante nesta dinâmica. “Fazemos o acolhimento social com vista à elaboração do diagnóstico social, identificação de cuidador, da rede familiar de suporte e condições habitacionais, informação sobre direitos e benefícios sociais”, explica a Dra. Rosário Barreiros, acrescentando que “fazemos ainda a orientação, encaminhamento e articulação com os recursos sociais da comunidade, no sentido de garantir as condições necessárias para a continuidade de cuidados, por forma a diminuir as desvantagens sociais decorrentes da situação de doença."
A Unidade conta ainda com uma Nutricionista que, de acordo com o que nos explica a Dra. Carla Moura Pereira, “deve integrar de forma ativa a equipa multidisciplinar de prestação de cuidados domiciliários e atuar em paridade e articulação com os outros profissionais envolvidos”. E acrescenta: “Na equipa, o nutricionista é responsável pela identificação, prescrição, monitorização e adaptação da terapêutica nutricional, com vista a otimização dos cuidados prestados ao doente."