Esta nova valência tem como objetivos “possibilitar aos jovens um espaço terapêutico que lhes permita a promoção de autonomia/individuação; a capacitação para resolução de problemas na vivência do quotidiano, o treino de competências sociais; a facilitação de reintegração nos diferentes sistemas de vida do jovem (família, meio social, escola ou centro de formação), visando uma intervenção precoce com intuito de prevenir ou diminuir o impacto provocado pela psicopatologia”, explica a Dra. Gláucia Lima, Diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental.
O Hospital de Dia para Adolescentes funciona em instalações completamente renovadas no Hospital do Montijo, dispondo de 4 gabinetes, uma sala de atividades, uma copa e um refeitório. A equipa, composta por 7 elementos e apoiada por vários estagiários, realiza aqui o seu trabalho todos os dias úteis, acompanhando presentemente 31 utentes, entre os 13 e os 18 anos, e ainda 15 pais destes utentes. Atualmente, fazem parte desta equipa multidisciplinar as enfermeiras Luiza Benatti e Cláudia Melo; os pedopsiquiatras José Estrada e Mafalda Martins; a psicóloga Sara Neves; a psicomotricista Cláudia Almeida; e o musicoterapeuta Gil Henriques.
Segundo nos explica o Coordenador do Hospital de Dia para Adolescentes e do Núcleo de Pedopsiquiatria, Dr. José Estrada, esta nova valência “destina-se a adolescentes que, devido a dificuldades de autorregulação emocional e de socialização, não se sentem integrados podendo estar em rutura com a escola, com os pares e com a família; o que os deixa numa situação de risco psicossocial importante”.
Neste espaço é privilegiada a intervenção em grupo, no qual os utentes têm atividades terapêuticas ao longo do dia, dentro e fora do Hospital. “A interajuda entre os pares é importante nos processos de identificação, assim como na partilha de sentimentos e interesses”, explica o Dr. José Estrada. E acrescenta: “A mobilização de recursos familiares e internos, apesar de importantes, deverão englobar também a dinâmica de grupo para a criação de uma matriz protetora e promotora de um bom desenvolvimento psicoafectivo nos jovens, pelo que a integração dos pais é também facilitador de uma boa evolução”.
As primeiras atividades organizadas pelo Hospital de Dia para Adolescentes tiveram início em agosto de 2021, realizando a equipa vários ateliês de verão, constituídos por “sessões psicoeducativas em grupo aberto”, refere a Dra. Glaúcia Lima. Mais tarde, em outubro do mesmo ano, e com periodicidade semanal, iniciaram-se grupos terapêuticos como o Ateliê Criativo, o Grupo de Psicomotricidade; o Grupo de Musicoterapia; e o Ateliê de Gestão das Emoções. Quinzenalmente, acontece ainda o Grupo de Pais. “Alguns jovens frequentam 2 a 3 ateliês por semana, procurando assegurar simultaneamente a frequência às atividades escolares”, explica a Dra. Glaúcia Lima.
O papel da enfermagem
No Hospital de Dia para Adolescentes estão a tempo inteiro 2 enfermeiras que, numa primeira abordagem, realizam a triagem aos jovens encaminhados para esta valência, com ou sem supervisão médica (Pedopsiquiatra). Mas, integrando a equipa multidisciplinar, são várias as tarefas por elas desempenhadas.
Os grupos de Ateliê Criativo são dinamizados pela equipa de enfermagem, recorrendo a várias áreas como a pintura, a escultura, os jogos e a modelagem. “Este enquadramento criativo permite atribuir significado psicoterapêutico, psicoeducacional e psicossocial mediante as necessidades de cada um dos jovens acompanhados”, explica a Enf. Luiza Benatti. E acrescenta: “Integramos também o Grupo de Pais como co-terapeutas e podemos ainda integrar outros ateliês mediante necessidade do grupo”. Esta equipa de enfermagem faz também o acompanhamento individual dos jovens relativamente às vivências nos grupos terapêuticos e “temos ainda a valência de apoio individual à parentalidade”.
Respeitando uma visão comunitária e multidisciplinar do Hospital de Dia, as duas enfermeiras integram ainda o Projeto “Mais Contigo”, que está a ser desenvolvido no Agrupamento de Escolas Poeta Joaquim Serra e tem como objetivo promover a saúde mental nos jovens e prevenir o suicídio. “Esta intervenção tem vindo também a empoderar os agentes educativos no sentido de criar competências para a prevenção na Saúde Mental nas escolas”, explica a Enf.ª Cláudia Melo, referindo ainda que “simultaneamente permite referenciar jovens para a Equipa de Saúde Mental Infantojuvenil” do CHBM.
Intervenção multidisciplinar
A musicoterapia, a psicomotricidade e a psicologia fazem parte das atividades semanais.
Em grupo ou de forma individual, Gil Henriques é o Musicoterapeuta que acompanha estes jovens. Nestas sessões realizam-se práticas musicais, de recriação e jogos com música, improvisação e temas musicais, práticas instrumentais e vocais, e exercícios com escuta musical. “Os objetivos da Musicoterapia são orientados para os problemas de cada grupo ou indivíduo e contemplam a reorganização cognitiva, afetiva e adaptativa na recuperação da socialização, autoestima, comunicação e motricidade integradas”, explica o Musicoterapeuta Gil Henriques, acrescentando que “a linguagem musical permite continuar a relação terapêutica, onde não chega a palavra; é uma excelente forma de promover a adesão terapêutica, sobretudo, no trabalho multidisciplinar”.
Com periodicidade também semanal, o Ateliê de Psicomotricidade desenvolve atividades relacionadas com a expressão corporal e psicomotora, tendo em conta as características individuais conjugadas com as características do grupo. “A intervenção psicomotora centra-se na reeducação e/ou na terapia de mediação corporal e expressiva permitindo atempar problemas de desenvolvimento e de maturação psicomotora, de comportamento, de aprendizagem e de âmbito psicoafectivo”, explica a Psicomotricista Cláudia Almeida, acrescentando que a intervenção psicomotora “constitui-se como uma mais-valia no que concerne ao normal desenvolvimento do jovem e no que diz respeito a uma expressão satisfatória da sua imagem corporal; principalmente nesta fase do desenvolvimento humano onde são inúmeras as mudanças que ocorrem ao nível emocional, físico e psicológico”.
A Dra. Sara Neves é a psicóloga que acompanha estes jovens todas as semanas. No Ateliê da Gestão de Emoções realiza diversas atividades, que assentam principalmente na partilha de experiências e de “sentires”, através do recurso a jogos, música, dança, desenho e, ainda, de atividades que englobam técnicas de relaxamento e expressão de emoções. Este ateliê “tem como objetivos ajudar os vários elementos do grupo a identificar/reconhecer, expressar e a gerir as suas emoções, desenvolvendo assim as suas competências sociais e emocionais. Competências essas, essenciais, para que estes tenham um maior contacto consigo mesmos, promovendo o autoconhecimento e a autoconsciencialização, e, consequentemente, capacitando-os para uma melhor tomada de decisão, no seu percurso de vida”, explica-nos a Dra. Sara Neves, acrescentando que “além disso, estas atividades desenvolvem a empatia e a capacidade de reconhecer no outro as emoções e sentimentos”.
A experiência dos utentes
Semanalmente são vários os jovens e pais que usufruem das atividades realizadas no Hospital de Dia para Adolescentes. E, se no início pode ter havido alguma resistência por parte de alguns adolescentes e pais, rapidamente essa situação foi ultrapassada pela relação desenvolvida entre todos, profissionais e utentes, pela partilha, pela confiança, pelos sorrisos! E exemplo disso são os vários testemunhos que a equipa vai recebendo. "Gosto muito do Hospital de Dia, os terapeutas são incríveis e as sessões maravilhosas. Ajuda-me imenso e é muito reconfortante. Um refúgio! Obrigado ❤️"; "Algumas atividades têm sido desafiantes, mas têm-me ajudado a soltar-me mais. Eu gosto bastante de estar aqui e toda a gente é muito acolhedora!"; "Gosto da experiência, ajuda-me bastante. Pessoas fantásticas. Obrigado!".
Mas o envolvimento dos pais é também muito importante. "Este grupo representa uma rede de apoio, partilha e reflexão: partilha sem julgamentos, reflexão individual e em grupo, apoio mútuo", conta-nos uma das mães, agradecendo o trabalho desenvolvido por todos os profissionais.
Ana (nome fictício) é outra mãe que tem acompanhado de perto o seu filho e participado nas várias atividades organizadas pelo Hospital de Dia para Adolescentes. "As sessões a que fui considero que me ajudaram a perceber a importância do legado familiar e da comunicação no nosso bem-estar, para podermos proporcionar também bem-estar. Nas primeiras sessões em que participei falámos no passado da nossa família, da nossa infância e de como essas vivências influenciam o presente e isso leva-nos a ver que o presente irá influenciar o futuro de toda a família. Gostaria de agradecer aos profissionais de saúde que nos têm acompanhado e ajudado a perceber que o que estamos a viver não será permanente e que as mudanças são possíveis!"
Projetos para o futuro
De olhos postos no futuro, são várias as ideias e projetos desta equipa. Atualmente, as sessões destinam-se aos jovens entre os 13 e os 18 anos, mas, segundo nos conta a Dra. Gláucia Lima, “é objetivo alargar os grupos até aos 21 anos, idade da transição, e dessa forma poder realizar uma maior prestação de cuidados aos adolescentes”. Outra ambição passa por “alargar a nossa intervenção nas escolas, assim como incluir outros profissionais das áreas da Saúde e da Educação neste projeto”, conclui a Dra. Gláucia Lima. Opinião partilhada também pelo Dr. José Estrada, que ambiciona que a equipa possa desenvolver novos ateliês, entre os quais um Ateliê Pedagógico, incluindo a Professora do Ensino Especial do CHBM, e um Ateliê de Expressão Psicodramática.