O conceito moderno de pandemia refere uma epidemia de grandes proporções, que se espalha a vários países em mais de dois continentes, num muito curto intervalo de tempo. A possibilidade de nos deslocarmos entre diferentes países e continentes funciona como um facilitador para a dispersão geográfica das epidemias, transformando-as rapidamente em pandemias.
A declaração pela Organização Mundial de Saúde (OMS) da pandemia ao SARS-CoV-2, conhecida como pandemia ao Coronavirus, deveu-se ao facto de “aquela doença” notificada pela República Popular da China em 31 de dezembro de 2019, com epicentro na cidade de Wuham, ter sido detetada em diferentes países e aumentado o número de casos declarados 13 vezes nas duas primeiras semanas de março de 2020. O número de países afetados triplicou, pelo que se verificaram 118 000 infetados em 114 nações com 4 291 mortes, neste curto intervalo de tempo.
Em Portugal é identificado o primeiro caso de infeção ao SARS-CoV-2 a 2 de março de 2020 e a 11 do mesmo mês é declarada a pandemia pela OMS. No dia seguinte, o Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) efetua a hospitalização do primeiro doente com pneumonia ao vírus.
Sendo a pneumonia a forma de apresentação da doença que gera a maior morbilidade, a Imagiologia assumiu um papel determinante no diagnóstico e folow-up desta patologia. Tanto pela realização das radiografias ao tórax, como pela realização dos exames de Tomografia Computorizada (TC), permitindo aos clínicos a melhor abordagem através de imagem médica, com precisão na localização anatómica e extensão das lesões pulmonares.
A utilização dos geradores portáteis de Radiação X foi uma mais-valia nos dois hospitais para a realização de radiografias ao Tórax, nas Áreas Dedicadas aos Doentes Respiratórios (ADR), dos Serviços de Urgência e dos Serviços de Internamento.
A TC tem sido crucial para o diagnóstico dos doentes do CHBM, estando o Serviço de Imagiologia equipado com um TC multicorte, de gama média, com 16 detetores. Os recursos humanos compõem-se por 4 Médicos Radiologistas, 28 Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica de Radiologia, 12 Assistentes Operacionais e 4 Assistentes Técnicos. O Serviço funciona ininterruptamente sete dias por semana.
No período compreendido entre 16/03/2020 e 17/03/2021 foram realizados no Serviço de Imagiologia exames TC a 2 215 doentes suspeitos e confirmados de infeção ao vírus SARS-CoV-2, provenientes das ADR dos Serviços de Urgência Geral e Pediátrica e dos Serviços de Internamento do Hospital de Nossa Senhora do Rosário.
Este grupo de doentes foi maioritariamente composto por indivíduos do sexo masculino: 57%.
A distribuição etária apresenta uma idade mínima de 12 anos e máxima de 101, média aos 66,63 anos, moda aos 81, com um desvio padrão de 17,65.
Neste período foram realizados 18 816 exames TC, dos quais 2 528 a doentes suspeitos ou infetados ao vírus, provenientes maioritariamente do Serviço de Urgência Geral (79,129%), dos Serviços de Internamento 20,87% e da Urgência Pediátrica 0,001%, (n=3). Neste conjunto temos a referir a realização de duas virtopsias por indicação do Ministério Público a cadáveres de portadores de infeção.
A realização de exames a doentes com elevado grau de suspeição e confirmados de infeção condicionou, de modo relevante, o normal funcionamento na Unidade de TC. Este procedimento veio interferir com a normal dinâmica do Hospital, levando inclusive a que se vedasse a livre circulação de outros utentes e dos próprios profissionais de saúde.
Os doentes que realizaram exames TC portadores de doença confirmada constituíram 48% deste grupo (n=1214). A sua distribuição ao longo dos meses do ano em análise mostra que o maior número de exames realizado a doentes portadores de infeção se concentra entre meados de novembro de 2020 e meados de fevereiro de 2021, o período que correspondeu ao maior pico pandémico em Portugal.
Relativamente à tipologia de exames realizados, 54,5% foram exames TC Tórax, 18,2% de TC ao Crânio e 10,1% exames de Angio-TC. Os restantes estudos distribuíram-se pelos exames TC ao Abdómen, Pélvis, Pescoço e outros.
A elevada incidência de fenómenos trombo-embólicos associados à infeção ao SARS-CoV-2 levou à consequente realização de exames de Angio-TC. Apesar de constituírem apenas 10.1% do número total de exames, a sua realização revestiu-se de um elevado grau de complexidade devido à dificuldade respiratória da maioria dos doentes.
O isolamento dos circuitos de circulação, a utilização dos equipamentos de proteção Individual, a higienização da sala de TC após a realização dos exames e os tempos de espera até à comparência dos doentes tornaram-se processos morosos e condicionantes de elevado desgaste físico e psicológico.
Realçamos que apenas com uma comunicação assertiva entre pares conseguimos superar com sucesso uma situação que, como profissionais de saúde, jamais ousámos imaginar ou poder enfrentar.
Realçamos o profissionalismo dos efetivos do Serviço de Imagiologia no cumprimento das regras da Direção-Geral da Saúde e da Comissão de Controlo de Infeção que contribuíram para que não tenham sido contraídas infeções em Serviço.
Construímos e sedimentámos a memória deste ano inimaginável do ponto de vista pessoal e profissional, que nos virá a acompanhar ao longo das nossas vidas.
Transmitimos aqui o registo da nossa experiência no primeiro ano de pandemia ao SARS-CoV-2.
TSDT Radiologia Cátia Salgado
TSDT Especialista de Radiologia Nélia Alves
TSDT Especialista de Radiologia Paula Montóia