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Rui Gonçalves 

Assistente Operacional na Casa Mortuária

1. Neste último ano, quais foram os principais desafios que enfrentou?
Este tem sido um ano muito complicado para todos nós em geral, mas como profissional de saúde a desempenhar funções na Casa Mortuária do Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM), devo dizer que a tarefa não tem sido fácil. Durante o pico da pandemia que levou o serviço praticamente à rotura, foram muitas as dificuldades com que nos deparamos e principalmente no início do pico pandémico.

O elevado número de óbitos foi sem dúvida um problema para o qual não estávamos preparados. Deparamo-nos com o problema da falta de espaço, com isto tivemos de nos reinventar, pois estávamos naquilo que mais parecia um “verdadeiro estado de guerra”, por tal facto tivemos que por diversas vezes esquecer aquilo a que chamamos de ética profissional para podermos dar reposta a tanta afluência e com isto garantir o funcionamento eficaz do serviço adaptado às circunstâncias que estávamos a viver.


2. Alguma vez sentiu medo (ou ainda sente) de ser infetado?

O medo, a angústia, a fadiga, o stress e a ansiedade, foram uma presença constante, tanto na vida profissional como na vida pessoal. O que nos leva a conseguir lidar com toda esta situação foi exatamente o trabalho, pois como era muito, não nos dava sequer tempo para pensar em mais nada. O medo que tinha de poder levar o vírus para casa era também algo que me deixava preocupado, pois não queria ser responsável por infetar ninguém.

Os abraços que neguei em casa aos que mais amo deixavam uma sensação de mágoa. Hoje há que recuperar o tempo perdido e tentar aproveitar todos aqueles momentos que esta pandemia nos roubará.

3. No âmbito da atividade profissional que desenvolve, que aprendizagens retira desta nova realidade?
Com a nova realidade aprendi que, apesar da difícil tarefa que tivemos durante o pico pandémico, conseguimos sempre superar as dificuldades a cada dia que passava e atingir um grau de eficiência que correspondesse às necessidades que o momento exigia, coisa que antes julgávamos ser impossível. Portanto nada é impossível desde que tenhamos dedicação.

4. Numa palavra, como descreve o primeiro ano da pandemia?
Quando me pedem para descrever numa palavra o último ano da pandemia, devo dizer que uma palavra é curta para descrever a imensidão do flagelo vivido, mas acho que para mim a palavra que mais se adapta é o “MEDO” da incerteza de quem não sabia bem o que por aí vinha.

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