entrevista farmacia1Francisca Dimas
Diretora dos Serviços Farmacêuticos

1. Neste último ano, quais foram os principais desafios que enfrentou?

Perante uma doença desconhecida, o maior desafio foi lidar com o medo que todas as pessoas tinham de ficar doentes, o receio de “levarem” a doença para casa, a par do desafio de assegurar o normal fornecimento de medicamentos e outros produtos farmacêuticos.

Na primeira vaga da pandemia lutámos contra a falta de álcool e solução alcoólica, que muitas vezes foi colmatada com doações de entidades externas, nomeadamente da Câmara Municipal do Barreiro, bem como recurso à Reserva Estratégica Nacional.

No entanto, esta última vaga foi mais angustiante, pois existiu escassez de medicamentos essenciais para o tratamento dos doentes mais graves. Felizmente em ambas as situações conseguimos ultrapassar todas as adversidades sem consequências para os doentes.

2. Alguma vez sentiu medo (ou ainda sente) de ser infetado?
Essa ideia passou-me algumas vezes pela cabeça, no entanto consegui lidar bem com a situação, pondo em prática as recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS), com o uso da máscara e a desinfeção das mãos.

Esta preocupação foi transversal à equipa, pelo que nos Serviços Farmacêuticos foram implementados circuitos/medidas no sentido de minimizar o risco de contágio, com o envolvimento de todos na procura das melhores soluções para atingir este desiderato.

3. No âmbito da atividade profissional que desenvolve, que aprendizagens retira desta nova realidade?
Os Serviços Farmacêuticos desempenham um papel imprescindível na atividade de um Hospital, pois é o garante da existência de medicamentos sem os quais, como é obvio, fica comprometida a prestação de cuidados. A par da atividade interna, garantimos ainda o fornecimento de medicamentos aos doentes seguidos no ambulatório. Ambas as atividades foram sempre asseguradas, sem intercorrências, graças ao enorme esforço de todos os colaboradores dos Serviços Farmacêuticos.

Perante esta nova realidade, constatámos que não existia um plano de contingência interno que desse resposta a uma situação pandémica, tendo existido a necessidade de o construir num curto espaço de tempo. O mesmo foi sendo melhorado com o contributo de toda a equipa e adaptado de forma a solucionar as situações que iam surgindo.

4. O que mudou na relação com os doentes?
Os Serviços Farmacêuticos desempenham uma importante atividade, com a cedência de medicamentos essenciais ao tratamento de patologias crónicas a doentes seguidos na nossa Consulta Externa/Hospitais de Dia, bem como a doentes oriundos de consultas privadas cuja patologia é tratada com recurso a medicamentos de uso exclusivo hospitalar. De acordo com critérios definidos, alguns destes doentes são seguidos em Consulta Farmacêutica, que têm como objetivo primordial promover a adesão à terapêutica e monitorizar a ocorrência de efeitos adversos.

Estes utentes pertencem a grupos considerados de risco, pelo que devem minimizar as suas deslocações ao hospital, como tal, tivemos de encontrar soluções para que a medicação não fosse interrompida. De forma a dar resposta a esta necessidade, foram desenvolvidos esforços no sentido de estabelecer parcerias com outras entidades, nomeadamente as Câmaras Municipais, Associações de Doentes, Operação Luz Verde da Ordem dos Farmacêuticos bem como com outros Hospitais, para que a medicação fosse entregue no domicílio do doente. No caso dos doentes que continuaram a deslocar-se ao nosso hospital, a periodicidade de dispensa da medicação foi aumentada, tendo-se recorrido ao agendamento, para que os doentes permanecessem o menor tempo possível dentro da instituição.

A Consulta Farmacêutica foi restruturada, tendo passado a ser efetuada maioritariamente através de Teleconsulta, para que o acompanhamento dos doentes não fosse descurado.

Encaramos estas dinâmicas como uma aprendizagem que serão objeto de reflexão futura no que concerne à relação doente/Serviços Farmacêuticos promovendo uma proximidade à distância.

5. Passado um ano de vivência pandémica, sente mais orgulho na profissão que exerce?
Sempre senti muito orgulho em ser Farmacêutica, a Farmácia é ciência e profissão e a sua existência remonta ao inicio da humanidade. O Farmacêutico é um elo indispensável na cadeia de tratamento do doente, garantindo a existência do medicamento necessário, no momento exato para o doente que dele necessita.

Sinto essencialmente orgulho na minha equipa que sempre esteve presente e disponível para enfrentar os desafios que esta nova situação trouxe.

6. Numa palavra, como descreve o primeiro ano da pandemia.
Reflexão.

entrevista farmacia2entrevista farmacia3entrevista farmacia4entrevista farmacia5