Diretora do Serviço de Aprovisionamento
1. Neste último ano, quais foram os principais desafios que enfrentou?
Desafio de manter a equipa em presença e sem medos. Desafio de conseguir criar no imediato um planeamento que permitisse afetar Recursos Humanos apenas ao controlo e distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para o combate à COVID-19, desafio de conseguirmos, sobretudo na primeira vaga, ser fornecidos, pois as falhas dos fornecedores com contratos vigentes foram de cerca de 90%.
Desafio de conseguirmos não falhar junto dos nossos clientes internos. Desafio de não falhar junto do Conselho de Administração perante inúmeros pedidos acrescidos de contratações em face das inúmeras necessidades de bens, serviços e obras novas inerentes à pandemia.
Desafio de resistência física e de arrumação dos bens cujo volume aumentou e não existiu espaço adequado para o seu armazenamento. Desafio de cumprimento da legislação vigente mesmo neste contexto de loucura de procedimentos e aumento de trabalho. Desafio de adaptar os stocks e as quantidades a concurso, em face das alterações consumos, diárias e que aumentavam abruptamente, sem qualquer aviso prévio ou tempo de planeamento, não podendo haver falhas da nossa parte com ruturas de qualquer produto.
2. Alguma vez sentiu medo (ou ainda sente) de ser infetado?
Nunca senti medo de ser infetada, mas senti receio da equipa sempre que tivemos casos de COVID-19, sobretudo na área da Logística o que poderia levar ao encerramento do armazém, aí sim, situação grave que felizmente não ocorreu.
3. No âmbito da atividade profissional que desenvolve, que aprendizagens retira desta nova realidade?
Como sempre digo à equipa, a motivação tem que ser nossa, não esperemos que alguém nos motive, mesmo nestas circunstâncias, tínhamos que estar cá e dar o máximo.
Só nós sabemos as dificuldades que a toda a hora surgiam e tínhamos que ultrapassar, por isso é tão importante que a nossa relação de equipa se mantenha forte e com vontade própria de trabalhar cada vez melhor, embora muitas vezes com sentimento de injustiça e desigualdade, próprio de uma organização como esta. Por aqui não existiu teletrabalho nem folgas, e à data só poucas pessoas ainda foram vacinadas.
Nem sempre existe noção da importância deste serviço, mas estivemos cá e conseguimos, com a grande colaboração do GCL-PPCIRA na pessoa da Enf.ª Rosário Rodrigues e da Enf.ª Supervisora Helena Almeida, implementámos uma equipa forte que no terreno permitiu existir o mínimo de falhas.
4. Em algum momento sentiu que o seu trabalho foi reconhecido por outros colegas ou pessoas externas à Instituição?
Este ano assistimos uma vez mais, mas com um louvor associado, à renovação da nossa certificação externa da Qualidade. Ver o trabalho reconhecido por entidades externas, que por muito que nos valorizem e reconheçam o "bem fazer", nunca tendo noção do quanto se trabalha neste serviço, dos timings e do stress com que diariamente desenvolvemos as tarefas, da regulamentação sem fim e nível de responsabilidade inerente às mesmas, é deveras gratificante.
Internamente, teríamos muitos episódios para descrever, mas os que mais nos marcaram foram os bons, naturalmente, e que correspondem à saudável relação desenvolvidas com os serviços ADR, sobretudo com os aqueles que primeiro começaram a receber estes doentes e connosco choravam e gritavam com o medo e a incerteza, dos bens que precisavam, da sua adequação, da quantidade.
Interessante foi a relação desenvolvida com duas Assistentes Operacionais que se tornaram parte da equipa, a Amália da Pneumologia e a Paula da Urgência. Também tivemos reações más e posturas indescritíveis, próprias do ser humanos cuja postura já era de não colaborante nas soluções e que em face da pandemia só veio a piorar o comportamento.
Do exterior, temos a registar o apoio da comunidade, foi maravilhoso, sobretudo a história de um senhor que queria doar a sua reforma, mas que naturalmente se recusou. e uma estilista que confecionou batas, quando não existiam para venda em lugar nenhum face ao aumento abrupto de consumos, e nos ofereceu com tecido para noivas.
5. Passado um ano de vivência pandémica, sente mais orgulho na profissão que exerce?
Claramente, foi o pior ano da minha carreira de 20 anos em Aprovisionamento Hospitalar. As primeiras semanas foram indescritíveis, com a necessidade de planear no imediato e criar equipas COVID-19 separadas da restante rota logística para que os poucos EPI que conseguíamos comprar fossem controlados apenas pela mesma. Comprávamos a quem tinha para vender, basicamente. Sete dias por semana a pesquisar novos fornecedores, a falar com outros Hospitais, nada podia faltar e os fornecedores quase todos nos falhavam. Orgulho, é pouco para descrever o que conseguimos fazer e nas condições que o fizemos, sem aumento de recursos humanos e com três surtos de COVID e outras doenças que levaram a ausências.
6. Numa palavra/frase, como descreve o primeiro ano da pandemia.
Muito desgastante para a equipa, mas orgulhosamente desafiante e com eficiência nos resultados.